HOTEL MURIQUI - Hotel de Negócios no Litoral de São Paulo

Categoria: Teoria

MARCO ANTONIO FALSI VIOLANI

O Hotel Muriqui foi planejado para ser implantado de forma estratégica em uma área não protegida, porém preservada de 501.000 m² formada pela restinga (ecossistema pertencente ao corredor da Mata Atlântica), no município de Bertioga, a 100 km do Aeroporto Internacional de Guarulhos e cerca de meia hora do Porto de Santos, o maior em exportações da América Latina. 

O complexo oferecerá 102 suítes, escritórios, restaurante, centro de convenções, além de um “Wellness Center” (centro intensivo de saúde e bem-estar) visando atender com sofisticação e requinte aos viajantes de negócios com destino à Capital, Santos e Interior. O projeto oferece uma alternativa criativa e singular dos hotéis localizados em São Paulo, cidade que apresenta os problemas típicos de uma megalópolis como: o tráfego intenso, a poluição, violência e variações bruscas de clima. 

O Hotel Muriqui usa o nome de uma espécie de macacos nativos ameaçados de extinção, para enfatizar seus compromissos éticos. Adequa perfeitamente ao Plano de Ocupação da Costa Litorânea cujas diretrizes apontam para a diminuição da construção de casas de veraneio, a preservação racional da Restinga e do Corredor da Mata, além de ajudar nos esforços da comunidade local de índios Guaranis e implantar o turismo sustentável da região.

O Projeto se vale da intenção da política federal que pretende dobrar o número de visitantes internacionais para 9 milhões/ano até 2007. A taxa de crescimento anual em 2004 foi de14%, para se ter idéia; só o estado de São Paulo recebe por ano um número de visitantes estrangeiros no total de 1.34 milhões, sendo 72% formados por viajantes de negócios, pois essa região concentra centenas de companhias multinacionais e clientes de alto poder aquisitivo.

A implantação do Hotel Muriqui oferecerá uma grande oportunidade para se desenvolver infraestrutura e a reorganização da comunidade de Bertioga, um dos municípios menos desenvolvidas do litoral de São Paulo, abrindo novas redes de trabalho direto e indireto, implantando o turismo sustentável na região, comunicando a aproximação da sustentabilidade em todos aspectos, divulgando conceito e o incentivo de investimentos nas áreas de Gerência Ambiental e Responsabilidade Social. 

Quantidade de Mudança e Transferabilidade

A adoção da estrutura em aço e blocos de vedação, mostra a simplicidade de uma construção clara, limpa, rápida, de baixo impacto e totalmente reciclável, e sobretudo barata.

O uso de blocos solo-cimento moldados no local através da formulação básica do NaCl do solo mais as cargas de cimento normal, permitem um controle extremamente satisfatório para se conservar a inércia térmica desejada nas paredes de fechamento. Painéis Fotovoltáicos de uso imediato, sem armazenamento em baterias poluidoras, ligados em série com a rede pública, fornecem a maior parte da energia usada e ainda “despejam” nesta rede o excedente do potencial de produção local de eletricidade. Uma trama desenhada de coletores de águas pluviais, localizada na cobertura capta as águas das monções e direcionam para o reuso na planta do edifício de acordo com a necessidade, trazendo economia da água da rede pública reservada para o consumo, banho e lavagem de alimentos, sendo que parte desta água é aquecida pelo sol e armazenada em boilers térmicos.  

A criação de um microclima artificial no terraço, ideal para o plantio de ervas e similares, melhora os desempenhos térmico e energético do edifício, a canalização dos ventos por dutos móveis facilita a refrigeração restringindo o uso de ar-condicionado (o grande vilão neste conceito) contribuindo para a economia de energia.

Outras técnicas como a produção de gás natural usado na cozinha e no aquecimento auxiliar da água dos boilers, gerados por biodigestores também foi largamente utilizada, sendo que o produto final além do gás, é reservado à adubagem do solo para cultivo de mudas para a reposição das espécies nativas de plantas na própria região do Hotel.

Os processos empregados para o reuso de energia, água e materiais são simples, podem ser facilmente copiados e adaptados para construções menores, mostrando que a resposta aos desafios do projeto aplicada de maneira eficaz e harmoniosa se encontram na própria Natureza. 

Padrões Éticos e Eqüidade Social 

Um código de conduta baseado na ISO14001/SA8000 será estabelecido. O hotel seguirá o código e exigirá o mesmo de seus fornecedores, durante a construção e operação e manutenção. Iniciará um diálogo contínuo sobre sua aproximação com o conceito de Sustentabilidade junto às partes interessadas: Governo local, Indústria do Turismo, Fornecedores, Empregados e Comunidade.

Deste diálogo resultarão parcerias para atividades independentes que podem desenvolver projetos sociais e ambientais. Junto às entidades locais serão oferecidos os serviços de educação, inclusão digital, e treinamento contínuo aos empregados e fornecedores. A comunidade terá o suporte para organizar-se e transformar-se, formando cooperativas que poderão oferecer produtos e serviços ao hotel e a outros mercados.

Qualidade Ecológica e Conservação de Energia 

“Na natureza nada é criado, nada é perdido, tudo se transforma", Lavoisier.

Afirmar que o projeto não afetará o biosistema e devolverá à natureza a mesma quantidade de recursos e energia extraídos seria uma ilusão. Mas, aplicar processos naturalmente simples que conduzem às técnicas empregadas para criar, usar, reusar e retornar o máximo dos recursos durante o ciclo de vida do hotel, será a diretriz básica do Projeto, das Instalações e de todo o complexo proposto. 

Desempenho Econômico e Compatibilidade

O investimento inicial é equivalente ao de hotéis de mesmo porte em São Paulo. A estrutura das taxas segue esse exemplo, mostrando a praticabilidade econômica. O financiamento será subsidiado com fundos de SRI, os créditos do Banco Brasileiro de Desenvolvimento para o Turismo Sustentável e a Ajuda Internacional para a Proteção da Mata Atlântica. A construção será feita com o uso de materiais e mão de obra locais, economizando boa parte dos custos de construção. 

Resposta Contextual e Impacto Estético

Implantado na área onde hoje existe uma clareira dentro do lote, o complexo dialogará com a Natureza sem perder suas características de objeto construído. O complexo apresenta um pavimento semi-enterrado para o piso técnico, onde se concentrarão todos os serviços, maquinário e redes de distribuição, além de garagem com acesso alternativo ao centro de convenções. O auditório principal será recoberto com a terra originada pelos trabalhos de escavação. Essa topografia artificial será ajardinada e contribuirá para a criação de um microclima agradável no pavimento térreo.

Localizado numa cota de 50 centímetros acima do nível natural do lote, o pavimento térreo foi desenhado como uma praça suspensa que apresenta uma galeria para o lobby, restaurante, “wellness center” e acesso principal ao auditório e salas de convenções. Possui decks e piscina, formando um desenho dialético entre o uso individual e coletivo.

O edifício é estruturado por uma rampa helicoidal que desempenha o papel de “viga Strauss”, conectando os espaços fragmentados. Diferentes entre si em área e disposição as unidades se localizam na altura da copa das árvores e foram desenhadas com muitas particularidades (contrastando radicalmente com os hotéis convencionais, apostando num novo seguimento de hotelaria).

As repetições acontecem apenas na estrutura e nos blocos funcionais das unidades (dutos, copa, lavabo e banheiros), libertando a planta para diferentes deslocamentos espaciais que criam uma complexa superfície de estruturas dimensionais e variações de modulação.

A rampa se desenvolve numa inclinação suave e confortável, graças ao grande perímetro do edifício e sua tipologia anelar. Apesar de existirem quatro torres de acesso aos elevadores, os hóspedes poderão caminhar tranqüilamente entre os andares sem a necessidade de escadas, numa rica “promenade” (parte da estrutura será ocupada por jardins, onde se poderá trabalhar, descansar ou admirar a paisagem natural circundante). “Costurando” o programa desde o térreo até o restaurante-mirante localizado no terraço da cobertura, a rampa faz analogia poética à aspiração humana.Equipe:Hans Peter Waltisberg, Consultor em Sustentabilidade e Comércio Justo. 
Gerente do projeto, desenvolve trabalhos em equipe com o escritório BSD para diversas instituições, empresas brasileiras e multinacionais.
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Nivaldo Pereira de Godoy Jr, Arquiteto, Designer e Artista Digital. 
Autor do projeto arquitetônico, trabalhou em diferentes escritórios de arquitetura e desenvolve projetos como profissional autônomo.
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Ícaro Hueza, Arquiteto, Designer e Consultor em Projetos Especiais. 
Consultor em Tecnologia da Construção, dirige a empresa Autoraf onde desenvolve projetos na área de Tecnologia e Projetos Especiais.

Al. dos Apetupás, 56 Pto. Pta.
Cep  04058 000 São Paulo
Fone: 11 577 0664
Cel.  11 9312 0070
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Marco Antonio Falsi Violani, Arquiteto, Professor e Consultor em Tecnologia da Construção, Mestre em Tecnologia do Ambiente Construído - USP São Carlos e Professor Titular da Cadeira de Conforto da Habitação da UNINOVE S.Paulo

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*O Projeto do Hotel Muriqui está participando do “Concurso Internacional Holcim Awards 2005” de idéias para a Construção Sustentável, promovido pelo grupo suíço Holcim. A equipe participante é formada por diferentes profissionais que trabalharam para o desenvolvimento de um empreendimento sustentável e viável dentro da realidade brasileira como atrativo potencial para investimentos futuros na região pesquisada.

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