Espetáculo e Hibridação.As Perspectivas sobre o Turismo em Barra Grande – PI
SÉRGIO TORRES MORAES
MARINA BRITO DE OLIVEIRA MARQUES
Resumo
A partir das duas últimas décadas do século XX, o planejamento urbano passou a ser feito de maneira estratégica, pensando em como tornar a cidade mais competitiva e atrativa para investimentos, sobrepondo interesses privados aos públicos: a “cidade-mercadoria”. A fragmentação moderna significa para os espaços a substituição dos saberes locais para se adotar um modelo hegemônico, que homogeneíza práticas, costumes e construções ou pode gerar “hibridação cultural” – a formação de culturas a partir da interação da cultura local com culturas de diversas partes. Estas transformações, somada a uma “espetacularização dos lugares”, têm sido verificadas mais intensamente em cidades turísticas.
Desse modo, este estudo discute esses temas à luz do caso do povoado turístico de Barra Grande, Piauí, buscando entender em que medida ele reflete a lógica da cidade-mercadoria, da sociedade do espetáculo e da hibridação cultural e quais os impactos para a população local. A metodologia desta pesquisa se estrutura a partir de uma pesquisa bibliográfica e de uma pesquisa de campo, através do “percorrer-observar” o povoado.
Introdução
Este estudo se propõe a refletir sobre a atividade turística contemporânea e suas implicações para a produção do espaço social, a partir de discussões que envolvem conceitos decidade-mercadoria e da sociedade do espetáculo.Tais características da contemporaneidade estão presentes em cidades turísticas de maneira potencializada nas diferentes esferas – econômica, social e cultural – pois a preocupação em atrair cada vez mais pessoas/consumidores passa a conduzir os processos de organização espacial e criação de paisagens, muitas vezes sem vínculos identitários com o território e a população originários. Este vínculo com as raízes locais é muitas vezes substituído por influências das diversas culturasde pessoas que passam a frequentar o lugar, o que pode significar não uma perda, mas a representação da nova forma de interação social com o mundo – constantementefluída (HANNERZ, 1997).
Para tornar o trabalho aplicado e aproximá-lo de um caso concreto, analisou-se o povoado de Barra Grande, localizado no litoral do Piauí, que está tendo suas dinâmicas de vida alteradas desde os anos 2000 com a intensificação do turismo na localidade. Os impactos do turismo em Barra Grande foram estudados em diversos campos científicos, tais como Sociologia, Turismo, Antropologia e Arqueologia, Desenvolvimento e Meio Ambiente, entretanto,questões espaciais e sociais, intrínsecas à Arquitetura e ao Urbanismo,ainda não foram contempladas.
Tais estudos são necessários, pois as alterações sofridas no povoado em decorrência das práticas turísticas refletem em alterações na produção do espaço, agora determinado a partir de lógicas mercantilistas – a cidade entendida como produto – a cidade mercadoria– a ser vendida em um “mercado de cidades” extremamente competitivo(VAINER, 2002) ou da sociedade do espetáculo, na qual as relações sociais passam a ser mediadas por imagens – a sociedade das aparências – que induz o consumo alienado (DEBORD, 2000). Paralelamente surge o conceito dehibridação cultural, que consiste no processo sociocultural em que estruturas ou práticas que existiam separadamente são combinados e geram novas estruturas, objetos e práticas (CANCLINI, 1997).
Assim, este estudo busca entender a produção do espaço urbano em Barra Grande e analisar em que medida o turismo desta localidadereflete as lógicas da cidade-mercadoria, da sociedade do espetáculoe da hibridação cultural.Para isso, estabeleceu-se como objetivos específicos: 1) levantar as estratégias adotadas no modelo de desenvolvimento turístico de Barra Grande e 2) analisar se estas estratégias se aplicam à realidade do povoado.A metodologia deste estudo se estrutura a partir de uma pesquisa bibliográfica e de uma pesquisa de campo. Esta última se baseia no “percorrer-observar” o povoado, a fim de perceber a sua dinâmica em uma percepção espontânea impossível de ser captada em situações formais (como entrevistas, por exemplo). Esperamos assimcontribuir para a discussão aprofundada sobre desenvolvimento urbano, identidades locais e turismo.
A cidade contemporânea
O território de uma cidade é a materialização da sua estrutura social, composto pelo fluxo de pessoas e de mercadorias, a partir de suas relações com outras cidades e com outros lugares do país e do mundo, e de seu contexto político-econômico vigente (SANTOS, 2009). Assim, as cidades contemporâneas buscam criar um contexto onde estas relações se estendam para todo o planeta e parece ser inexorável para os gestores das cidades conseguirem o rótulo de “cidade global”. Para tantoelas devem se tornar competitivas – as melhores são aquelas com maior poder de adaptação para competir por investimento de capital e tecnologia, atrair indústrias, negócios e turismo, nos preços e qualidade de serviços e na força de trabalho qualificada (FERREIRA, 2003; VAINER, 2002).
(...) o modelo das cidades-globais se estrutura justamente em torno da ideia de que cabe às cidades “preparar-se” para as “novas” forças da economia global. A ideia é que possam servir como suporte físico aos fluxos econômicos, à atuação das empresas, etc. As cidades na era da globalização devem ser mais especializadas do que eram, mais preparadas para um “novo tipo” de organização econômica, para uma “nova” economia de serviços. As cidades devem, no novo padrão global, ser competitivas. Senão, parece que estariam fadadas a morrer(FERREIRA, 2003, p. 115).
De acordo com o autor, a capacidade de adaptação das cidades se torna uma medida de sua importância e uma nova modalidade de planejamento urbano foi criada para orientar essa inserção das cidades visando torná-las globais: o “planejamento estratégico”. Inspirado nas teorias de gestão empresarial que lidam com a competitividade, esse modelo foi montado pelos urbanistas catalães na reurbanização de Barcelona para as olimpíadas de 1992. As áreas portuárias decadentes foram reformadas com capital público e privado, dando inquestionavelmente mais qualidade a elas. Apesar de catapultar a cidade no rol de “cidades globais” as intervenções forammuito questionadaspor não ter tido um processo inclusivo e por não evitar uma segregação socioeconômica (FERREIRA, 2003).
Para Ferreira (2003), o principal problema do planejamento estratégico é exatamentetentar transferi-lo para realidades urbanas com contextossocioeconômicos muito desiguais, pois tais propostas não podem ser tomadas como uma receita de planejamento, sem um aprofundamento crítico a respeito das particularidades do caso a caso. Apesar das advertências do autor, a ideia de um planejamento estratégico vem sendo adotado em muitas cidades latinas, como Córdoba na Argentina, Rio de Janeiro (RJ) e Santo André (SP), como solução para sua inserção no mercado global de cidades. Contudo, fica evidente que esta lógica neoliberal é “muito frágil para as cidades periféricas do capitalismo[1], uma vez que vários autores já demonstraram que há uma crescente concentração das empresas “transnacionais” em uns poucos países-sede”, como Barcelona, Londres, Nova York ou Berlim, por exemplo (Ferreira, 2003, p. 118).
Outra crítica importante de lembrar aqui é aquela elaborada por Vainer (2002), que alerta que a pretendida analogia cidade-empresa lançada pelos urbanistas catalães, não se restringe a uma proposta administrativa, mas simna redefinição do poder locale do próprio conceito de cidade,pois ela passa a ser gerida pelos empresários, o que enfraquece a democracia e pode levar ao encolhimento do espaço público e ao rompimento das estruturas identitárias (VAINER, 2002).
O conceito de cidade, e com ele os conceitos de poder público e de governo da cidade são investidos de novos significados, numa operação que tem como um dos esteios a transformação da cidade em sujeito/ator econômico... e, mais especificamente, num sujeito/ator cuja natureza mercantil e empresarial instaura o poder de uma nova lógica, com a qual se pretende legitimar a apropriação direta dos instrumentos de poder público por grupos empresariais privados (VAINER, 2002, p. 89).
Desse modo, leis que deveriam amparar pautas urbanísticas inclusivassão aplicadas de forma arbitrária, reforçando a segregação e exclusão (MARICATO, 2003), uma vez que a pobreza não condiz com a imagem de uma cidade que busca sua inserção em uma estrutura globalizada, e por isso tem de ser mascarada (VAINER, 2002). Nesta estrutura, portanto, as propostas de desenvolvimento urbano raramente coincidem com as opções mais indicadas para promover a manutenção das estruturas identitárias, ou “o direito à cidade” ou a qualidade de vida de seus habitantes. Nesse sentido Guy Debord (2000) observa que a criação de cenários no urbanismo contemporâneo é uma ferramenta útil para garantir a manutenção do poder de uma classe sobre as demais.
Estes cenáriossão o suporte da “cidade-espetáculo” – uma mercadoria produzida pela sociedade capitalista que ocupa totalmente a vida social (Debord 1997 apud VIANA, 2011). Ali, o “espaço (e juntamente com ele o urbanismo, a arquitetura, etc.), o tempo, o lazer, a cultura, a arte, a comunicação e tudo o mais é perpassado por esta alienação generalizada da sociedade moderna, já há muito identificada no conceito marxista de “fetiche da mercadoria”[2](VIANA, 2011, p. 9).
Para a venda desta “cidade-mercadoria” o“espetáculo” por ela proporcionado é disseminado através dos meios de comunicação eda publicidade. Os destinos turísticos, por exemplo, transformam os lugares em cartões postais através da sua exploração imagética na busca de sua inserção no mercado global de cidades. Para tanto, respondem em termos espaciais com a homogeneização e a padronização de cenários urbanos a partir, por exemplo, de simulacros arquitetônicos que remetem a paisagens distantes e bucólicas (pode-se citar cidades como Gramado(RS) ou Campos de Jordão (SP) e suas arquiteturas ditas “alpinas”) (figura 1). Contudo, esta lógica de gestão urbana por meio da produção (e consumo) e da distribuição (ou divulgação) de mercadorias (espetáculos) em série, gera espaços com um mesmo padrão e sem autonomia,oque afeta sua originalidade (DEBORD, 2000).
As perspectivas sobre o turismo nesse contexto
Dentro dessa realidade socioeconômica, o turismo foi intensificado à medida que a conexão simbólica entre as cidades globais foi se estabelecendo, facilitada por uma maior mobilidade – oferta de voos e destinos cada vez maior; estradas que cortam grande parte dos territórios; trens de alta velocidade, etc. Hoje o turismo é uma das atividades econômicas mais consideradaspela “cidade-mercadoria”, impulsionada em grande parte pela supervalorização da imagem na sociedade contemporânea – as pessoas sentem necessidade de compartilhar em redes sociais os seus momentos de lazer e há nisso uma competição (quase declarada) de quem consome “mais e melhor”. Nesse sentido, a própria paisagem (ou imagem do lugar) passa a ser consumida como produto no turismo.
Zukin (2000) afirma que a paisagem é constituída por uma parte material e por uma representação simbólica das relações sociais e espaciais. “Com frequência, o que observamos como paisagem – aquilo que é construído, escondido e que resiste – é uma paisagem do poder” (ZUKIN, 2000, p. 106). A autora ainda alerta que a “paisagem” é a maior apropriação cultural do mundo atual – se dá quando um grupo social não nativo assume a perspectiva e impõe sua visão, que conduz a uma apropriação espacial (ZUKIN, 2000).
O mercado se apropria então da imagem, porque ela tem muita força simbólica no mundo contemporâneo, e para os destinos turísticos ela é utilizada para tornar o lugar cada vez mais atrativo e competitivo. Nas cidades turísticas quase tudo é encarado como objeto de consumo (KRIPPENDORF, 1989) e as pessoas associam o momento de lazer imediatamente ao momento de consumir. Desse modo, não se poupam esforços para estimular o consumo, criando, inclusive, simulacros do real, muitas vezes sem vínculo com a história, identidade e cultura do lugar e da população originária (DEBORD, 2000). Entende-se assim que o consumo visual da cidade não necessariamente tem vínculo com os valores culturais originários daquela população (ZUKIN, 2000).
Dificilmente os turistas parecem interessados em conhecer tais valores com profundidade, poisnota-se que mesmo uma cidade “cenográfica” não perde seu valor enquanto destinoturístico(ROJEK, 1991). A falta de apego à autenticidade parece estar relacionada à mudança das perspectivas econômico e culturais das localidades. Uma vez que os valores locais estão sendo substituídospelas perspectivas globais, os produtos e espaços perdem a conexão direta com seu local de origem, com sua história e tradição, sendo padronizados e reproduzidos em muitos lugares (ZUKIN, 2000).
Uma redefinição em termos culturais e econômicos acontece mesmo quando se atua sobre centros históricos consolidados - promovendo sua requalificação, revitalização e espetacularização – que via de regra substitui valores e população local por consumidores solventes com valores padronizados de uma sociedade global (MORAES, 2004).
Sobre esse contexto de padronização[3], Zukin (2000) levanta duas questões importantes: primeiro, se isso marcará o fim do vernacular e da produção local e segundo,se o fato de a comunidade tradicional intrinsicamente relacionada ao lugar de origem não existir mais de maneira “intacta” seria suficiente para pensarmos no fim das particularidades.
De acordo com Lucchiari (1997) as atividades turísticas são constantemente associadas à marginalização socioeconômica e espacial das populações nativas e migrantes de baixa renda, materializadas no espaço construído e nas atividades produtivas. Contudo, a autora comenta que o consumo do espaço “por um lado [...] pode levar à sua degradação,por outro, pode-se considerar que as novas paisagens promovidas pelo turismo representam formas contemporâneas de espacialização social, em que novas configurações de sociabilidade, mais híbridas e mais flexíveis são construídas” (LUCHIARI, 2001, apud COELHO, 2004) (figura 2).
Não se questiona aqui o fato de que a sociedade contemporânea contém características individualistas e padronizadas e que isso repercute nas relações sociais e com o mundo, mas sim quais são as consequências dessas novas configurações para a produção dos espaços. Será que as localidades de fato estão sendo anuladas ou o global consegue fazer um rearranjo das localidades de forma híbrida?
O mundo contemporâneo plural e híbrido não comporta dualismos – local oposto ao global; urbano oposto ao campo; cidade formal oposta à informal. A “hibridação” é responsável por novos processos simbólicos, os quais são feitos a partir de ideias de tipos e lugares diferentes (CANCLINI, 1997).
Todas as artes se desenvolvem em relação com outras artes: o artesanato migra do campo para a cidade; os filmes, os vídeos e canções que narram acontecimentos de um povo são intercambiados com outros. Assim as culturas perdem a relação exclusiva com seu território, mas ganham em comunicação e conhecimento (CANCLINI, 1997, p. 29).
O conceito de cultura tem diferentes interpretações e ganha novos significados ao longo do tempo. Nesta pesquisa entendemos “cultura” “tal qual organizada no mundode hoje supõe que, em grande parte, ela é fluida, não atemporal, e que, noque diz respeito às identidades, não énada óbvio que aquilo com que as pessoasse identificam seja o mais durável” (HANNERZ, 1999, p. 153). Desse modo, concordamos com Canclini (1997) que o papel do sujeito nesses rearranjos culturais é contribuir com a desterritorialização e em seguida com a reterritorialização, fazendo com que a cultura perca a relação exclusiva com o seu território, sendo realocada parcialmente em diversos territórios, agregada a outras culturas (CANCLINI, 1997).
Geralmente ao tratar de cidades turísticas, entende-se que a cultura local foi perdida devido a chegada de outros interesses e olhares, na dualidade “oprimidos” x “opressores”. Hannerz (1997) também aborda esse tema e propõe um olhar no qual a cultura do lugar é exatamente a relação de todas as culturas que se encontram, reflexo da interação de pessoas e de grupos de pessoas diferentes. Nesse sentido, a cultura das cidades turísticas não estaria sendo perdida, mas sim alterada pela diversidade e pelas “superposições e transversalidade de ligações, que conectam de modo bastante firme pessoas de uma civilização com aquelas de outras civilizações” (HANNERZ, 1999, p. 153).
A “diversidade” permite um vínculo menos rígido entre as classes sociais e os estratos culturais, com a tendência de uma relação maior entre os grupos, o que não significa que essa circulação dissolveu as diferenças de classes e a assimetria entre países, mas dá uma nova configuração (CANCLINI, 1997). Em alguns casos se opta por não agregar determinadas culturas que são consideradas menos importantes. Hannerz (1997) chama essa interrupção na distribuição dos significados de “limite cultural” e o explica como sendo a falta de exposição suficiente para que haja compreensão, valorização ou qualquer tipo de apropriação cultural. É importante reconhecer as não incorporações intencionais para lembrar da assimetria entre os fluxos e pensar sobre como diminuí-la, permitindo as mesmas possibilidades para todos os grupos.
Também existem casos em que se preserva grupos tradicionais para que permaneçam intocados. Muitas vezes é um esforço em cidades turísticas, pois a imagem do “tradicional” é valiosa no mundo em que nada parece exclusivo. Uma das paisagens fabricadas para o mercado de consumo é a cultura da natureza “intacta” e encará-la como produto significa racionalizar a utilização dos recursos naturais, o que não existia para a população nativa (estes associam os recursosà garantia do seu modo de vida) e que pode significar a degradação dos bens (LUCHIARI, 1997).Precisa-se refletir sobre a importância de ouvir os grupos tradicionais para entender como eles se sentem em relação ao que foi incorporado e perdido, sem forçá-los à conservação de algo que não os representa em nome de uma imagem, mas também sem comprometer seus meios de vida.
É comum ouvir que determinado lugar foi descaracterizado e desqualificado com a chegada de novasestruturas de vida, novas técnicas agrícolas, ouuma exploração maior dos recursos naturais, ter uma patroa ou patrão e não ser mais trabalhador(a) autônomo(a), cultivar desejo por roupas e acessórios “de marca”, dentre outras dinâmicas socioculturais e econômicas. Contudo, é necessário refletir e perguntar: mas e se as pessoas que moram lá preferem como está hoje, tendo em vista que possam ter sido incorporadas técnicas ou saberes que de fato facilitam e melhoram suas vidas, ou se o que é originário não as representa mais enquanto comunidade e sim o híbrido?
O fato de se considerar muitas vezes o que veio “de fora” como sendo “melhor”,pode indicar quehouve algum tipo de condicionamento para isso – há um limiar estreito entre o “querer” e o “ser ensinado a querer”. Contudo, todas as escolhas julgadas com critério de valor fazem parte de um sistema de crenças, construído socialmente. Desse modo, acreditamos que deva existir uma medida entre valorizar as práticas locais e o respeito à vontade dessa população, caso queiram se integrar e interagir com diferentes culturas.
O caso de Barra Grande – PI
O litoral do estado do Piauí surge apenas no século XIX, quando foi feita uma troca de municípios com o estado do Ceará e o estado conquistou 66 quilômetros de extensão de orla marítima (DUTRA, 2015). Neste litoral do nordeste brasileiro se situa o povoado de Barra Grande, no município de Cajueiro da Praia (figura 3). Esta faixa litorânea foi consecutivamente desmembrada com o surgimento de novos municípios em 1989, surge o município de Cajueiro da Praia, que compreende vinte povoados, sendo quatro deles em orla marítima (figura 4).
A história e origem de Cajueiro da Praia e Barra Grande foi resgatada por registros de entrevistas com antigos moradores (MACÊDO, 2011) e nos conta que o local foi habitado há cerca de 350 anos por índios da tribo Tremembé e posteriormente foi ocupado por pescadores. Barra Grande por sua vez parece ter sido fruto de famílias pesqueiras que se deslocaram de onde hoje é a sede do município e da chegada de gaúchos fugitivos da Guerra dos Farrapos em meados de 1835 (MACÊDO, 2011). Cajueiro da Praia e Barra Grande cresceram lentamente, a população estimada do município inteiro para o ano de 2019 era de apenas 7.642 habitantes (IBGE, 2019).
Desde sua origem, Barra Grande tinha as atividades tradicionais como principais geradoras de renda – a pesca e a agricultura, além do comércio informal. Desta forma, sua população não tinha familiaridade com trabalhos formais e assalariados, pois viviam praticamente em uma economia de subsistência. O modo de vida dessa população até meados do século passado era extremamente simples, bem como suas construções; tinham muito apego aos ritos religiosos da igreja católica; as estruturas familiares eram patriarcais e o nível de escolaridade era baixo. O povoado começou a ser frequentado por turistas nos anos 1980, de maneira incipiente. A visitação se intensificou nos anos 2000, quando se descobriu que a praia é favorável à prática esportiva de kitesurf (figura5).
Em termos de planejamento e gestão, Barra Grande tem hoje um Plano Estratégico Turístico no qual é possível perceber falhas e contradições. Ele foi elaborado entre os anos 2008 e 2010 e tem como principais objetivos diminuir os efeitos da sazonalidade, aumentar a satisfação dos visitantes e gerar mais emprego e renda para a população local (DUTRA, SANTOS E SILVA, 2014). Entretanto, o Plano foi elaborado com pouca participação popular, regido por grupos pró-turismo (como empresários locais, representantes de entidades parceiras e pessoas que trabalham com turismo); além disso, não houve um diagnóstico com dados consistentes sobre a realidade local, sobre suas estruturas de vida ou consideração aos dados socioeconômicos da população (DUTRA, SANTOS E SILVA, 2014).
Cabe lembrar que as ações governamentais turísticas que acontecem em Cajueiro da Praia sempre dependeram de planos e recursos de instâncias estadual e federal, uma vez que a estrutura administrativa municipal é precária e que os seus recursos humanos e tecnológicos não são suficientes (MACÊDO, 2011). A consequência disso é a falta de participação popularna concepção de planos desenvolvidos, dificultando um diálogo que agregue os diferentes interessesda população (MACÊDO, 2011). O Conselho Municipal de Turismo criado em 2001, seria o meio de participação da sociedade na gestão desse setor. Contudo, apesar da comunidade se mobilizar em torno deste Conselho em um primeiro momento, não deu continuidade às ações devidoà falta de incentivo da Prefeitura (MACÊDO, 2011).
As práticas relacionadas à atividade turística em Cajueiro da Praia fizeram a localidade se transformar espacialmente, socialmente e economicamente, visando a uma novaidentidade do lugar. Nesse sentido, pode-se interpretar a formação desta nova identidade de duas formas: como resultado da perda dos costumes locais e/ou a partir da mistura entre a cultura local e as culturas exógenas, tendo como resultado uma cultura híbrida.
As transformações materializadas no espaço construído acontecem de maneira mais visível por meio das edificações, uma vez que a arquitetura dos empreendimentos turísticos traz uma nova realidade imagética. Essa realidade reproduz ou traz alusões a construções de toda e qualquer parte do mundo, desde que tenha algum apelo comercial. Na figura 6, por exemplo, é possível ver um hotel em Barra Grande com influência arquitetônica e imagética da arquitetura dita “mediterrânea vernacular”, com fachadas minimalistas brancas, sem arestas e elementos de madeira expostos.
A principal rua do povoado, próxima e paralela à orla, era originalmente habitada por famílias pesqueiras e se constituía no espaço de encontros e sociabilidade da localidade. A partir do advento do turismo, estas casas de pescadores são vendidas e atualmente a rua é ocupada por restaurantes e pousadas em estilo “rústico” – que busca simular construções vernaculares - com o uso de madeira, palha e vidro e decoração com objetos praianos, como luminárias de búzios. A população local hoje só frequenta esta rua em posição de trabalhadores, raramente desfrutando desses equipamentos e serviços. Esta parte do povoado que fazia parte do cotidiano local se transformou, e aí foicriada pelo turismo uma nova realidade – a do “espetáculo” permeado de referências exógenas– que destoa da área de vida da população nativa. As arquiteturas e estilos de vida são claramente desiguais. A dualidade entre estas realidades é clara (figuras 7 e 8): enquanto os turistas ocupam a praia e seu entorno próximo como área de lazer, a população local se reúne principalmente na Praça Central, onde está localizada a Igreja matriz, uma quadra de futebol, onde os eventos do povoado acontecem e os principais comércios locais do povoado se concentram ao redor (figura 9).
Além das transformações na forma e estrutura urbana, percebe-se também uma transformação econômica. Gradativamente a prática da pesca artesanal (figura 10), que antes era a principal atividade econômica local, vem diminuindo e perdendo espaço para os empregos relacionados à atividade turística, principalmente entre os jovens. Esses empregos trouxeram a perspectiva do trabalho assalariado para a população local e fizeram com que o índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) aumentasse, mas não foi suficiente para tirá-lo da faixa de desenvolvimento considerada baixa. Isso porque as vagas disponibilizadas para os locais relacionadas ao turismo são sempre em empregos de base ou subempregos, pois não houve nenhuma ação para a qualificação da mão de obra local. Dificilmente a população local encontra apoio e recursos para empreender na área do turismo.
Os trabalhos advindos do turismo também impactam culturalmente o povoado. Exemplo disso é a maior independência financeira e emocionalconquistada pelas mulheres do povoado. Se antes elas realizavam em sua maioria trabalhos domésticos, não remunerados, passaram agora a ter trabalhos assalariados em pousadas e restaurantes (CUNHA, 2018). A partir disso, a estrutura conservadora-patriarcal local é abalada, pois se reformula o entendimento sobre os papéis de gênero. Percebe-se nesse exemplo a hibridação cultural – uma discussão sobre equidade entre gêneros, que geralmente ocorre nas cidades maiores, ganhando voz em um pequeno povoado patriarcal.
As contradições presentes nas transformações por que passa Barra Grande questionam o viés reducionista de uma análise dualista (a atividade é positiva x negativa?).Nesse sentido, cabe notar que apesardo Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Cajueiro da Praia ter dobrado de 2010 para 2017 (de R$4.589,16 em 2010 paraR$10.858,69em 2017), o salário médio mensal do município em 2017 era de apenas 1.6 salários-mínimos e 59.3% da população vivia em domicílios com rendimentos mensais de até meio salário-mínimo por pessoa (IBGE, 2017). Em 2010 o salário mínimo de R$ 510,00 permitia comprar 2,5 cestas básicas de valor médio de R$ 200,00, enquanto no ano de 2017 o valor do salário mínimo de R$937permitia comprar 2,7 cestas básicas (cesta básicaem São Luís, capital mais próxima que realizou a pesquisa nesse ano, era R$338, 38) (DIEESE, 2017). Questiona-se então a distribuição e concentração de renda e estruturas de desigualdade geradas no povoado a partir da atividade turística.
Ainda que este estudo não se aprofunde na questão, é importante observar que saberes tradicionais como a pesca artesanal vem diminuindo no município. Pode-se supor que por ser uma atividade trabalhosa, difícil, mal remunerada e até mesmo arriscada, é preterida em relaçãoaos trabalhos relacionados ao turismo. Como não existe nenhuma política de valorização da cultura local ou estímulo para que os jovens desenvolvam a pesca, temos a perspectiva de que esse saber tradicional possa se perder. Caberia avaliar qual o papel da atividade turística nesse processo uma vez que atualmente a população local é deixada a margem da economia do turismo.
Soma-se a isso que não há nenhuma perspectiva de inserção dessesjovens no segmento turístico, pois não há preocupação com sua especialização paraeste mercado de trabalho. Isso fica claro ao se analisar a baixa taxa de escolaridade no município, onde grande parte dos alunos ealunas frequentam a escola apenas até o ensino fundamental – em 2010, o IBGE apontava a taxa de escolarização de 95% entre 6 e 14 anos.Em 2018 havia1.197 alunos matriculados no ensino fundamental em contraste aapenas 253 no ensino médio (IBGE, 2018), o que corresponde a uma redução de cerca de 80% dos estudantes.O que está acontecendo, então, é o abrir mão de uma atividade tradicional, pautada no estilo de vida rural, para se inserir em atividades do sistema capitalista, mas sem nenhum tipo de preparo.Krippendorf (1989) fala sobre a fragilidade de se desenvolver economias baseadas em uma “monocultura turística”, sem incentivar outras atividades, pois, como o turismo tem um ciclo de vida, depois que os turistas deixam de aparecer e migram para outros destinos, a população resta completamente despreparada para enfrentar o impacto social e econômico desse esvaziamento.
Discussões
Percebe-se que abordar questões sobre os impactos da atividade turística envolve um amplo contexto e pode gerar discussões de diversas naturezas. Este trabalho foi uma tentativa de reunir diferentes perspectivas que podem guiar essas discussões, entendendo-as não como antagônicas, mas como complementares e embasadas por fontes teóricas de diversos campos do conhecimento.
As informações recolhidas sobre Barra Grande (ainda que limitadas devido ao contexto da pandemia Covid 19) foram suficientes para constatar que sua concepção, enquanto cidade turística, se insere na lógica da cidade-mercadoria, pois a administração da cidade parecequererse preparar para inserir-se na “economia global”. Por se tratar de uma cidade do litoral do Piauí, um dos estados mais pobres do Brasil, paíscom enorme desigualdade social, o conceito de cidade-mercadoria chega sem uma parte de seus preceitos aplicados, como o da gestão participativa e da ênfase aos governos locais. O Plano Estratégico de Desenvolvimento do município é criticado pela falta de participação da comunidade mais pobre e mais antiga, sendo “representada” apenas pelos grupos pró-turismo. Esse desequilíbrio parece ser o problema da ideologia do “planejamento estratégico” quando transferido a realidades de desigualdade socioeconômica como a brasileira – a grande dificuldade emconciliar os interesses dos diferentes atores ou de dar voz a grupos mais vulneráveis.
Acreditamos, portanto, que fortalecer a autonomia do governo local seria decisiva para construir uma democracia legítima em municípios como Cajueiro da Praia, dada a vulnerabilidade socioeconômica de sua população tradicional. Um dos objetivos da Constituição de 1988 é aliar a democracia a um valor social (BARBOSA, 2010) conferindo mais autonomia aos municípios, pois a descentralização do poder permite a aproximação da população aos gestores locais na definição das políticas públicas. Assim, a legitimação da formulação, execução e gestão das ações dessas políticas, como zoneamento, controle do uso e ocupação do solo e plano diretor, só aconteceria com o aval popular. Contudo, Cajueiro da Praia enfrenta obstáculos de ordem financeira e política para o exercício de sua autonomia na prática. Além de dependente economicamente de transferências das esferas estadual e federal devido a uma baixa arrecadação local, a atual administração tem o controle político na mão dos empresários do turismo que parecem não se preocupar em criar canais de participação popular oumecanismos para uma diversificação de atividades ou capacitação de mão de obra (BARBOSA, 2010).
Desse modo, consideramos importante incentivar ações paralelas tais como mobilizações partindo da própria população local. Para tanto, a população tem que se reconhecer como uma comunidade, estabelecendo suas lutas por ideais comuns. Isso se faz necessário porque a situação atual é de assimetria de poder entre os grupos – os “de fora” se estabelecem nos cargos decisórios e têm maior poder econômico, enquanto a população local fica desassistida por falta de representatividade. A formação de um grupo coeso pela população local pode equilibrar as forças entre eles (ELIAS E SCOTSON, 2000).
A união da população local também é essencial por ser um instrumento contra o crescimento predatório do espaço tomado pela “espetacularização”. Geralmente a cidade planejada tende a ser espetacularizada e a não planejada fica à mercê da informalidade e da precariedade. Ao escolher quais os espaços vão receber investimentos (para atrair pessoas e consumidores) relega-se tantos outros à exclusão do processo de planejamento. O equilíbrio de representatividade entre grupos confere a oportunidade de que “a parte não escolhida” também seja pensada.
Em Cajueiro da Praia a alteração na dinâmica do povoado por influência da atividade turística tem efeitos diversos para a população local e corroboracom a teoria da hibridação de Canclini (1997), de que a cultura no mundo contemporâneo não está sendo perdida, mas sim reconfigurada – ela deixa de existir na forma “pura” original, pois durante a interação com outras culturas ela é influenciada e influencia as demais. Na verdade, o mais importante nesse primeiro momento de reflexão não é fazer o juízo de valor dessas reconfigurações, mas sim reconhecer que elas acontecem e tentar entende-las. Nesse caso, a “incorporação” parece acontecer apenas em um sentido, muito provavelmente devido a assimetria econômica entre os grupos que estão se relacionando.
Considerações finais
Entender algumas características determinantes sobre a cidade e, consequentemente, sobre a sociedade, foi nosso ponto de partida para contextualizar as práticas turísticas contemporâneas. O turismo se apresenta atualmente como um dos impulsionadores do consumo do espaço e as novas paisagens que ele produz representam certas formas contemporâneas de espacialização socialque podemnão representar os hábitos e condições locais.
A grande crítica a essas novas paisagens é sua padronização, consideradas muitas vezes “cenários”, pois não estão necessariamente relacionadas ao território. Guy Debord (2000) aponta isso como o fim das localidades, enquantoZukin (2000), Canclini (1997) e Hannerz (1997) acreditam que uma nova forma de espacialização social pode se materializar exatamente nessa confluência de diversas culturas e hábitos, não deixando de ater-se às assimetrias e aos limites culturais (HANNERZ, 1997).
O turismo intensifica as características encontradas no mundo – de espetacularização, homogeneização e simulação a partir de monumentos e espaços públicos assépticos e arquiteturas exógenas adaptadas ou simulacros históricos. Os diálogos entre turistas e moradores, as trocas sem limite cultural e a equidade no trabalho não acontecem no turismo desenvolvido na lógica da cidade-mercadoria, como é o caso de Barra Grande. Desse modo, nos parece que a própria atividade turística se constitua num potencial risco para sua população tradicional, uma vez que passa a depender exclusivamente desta. É urgente pensar em estratégias realistas de mitigar os efeitos desse processo, na estrutura socioeconômica e na forma de produção do espaço.
Desta forma, este artigo aponta três açõesalternativas à construção desta cidade preocupada apenas em se tornar atrativa e competitiva. São eles:1) o investimento em um governo local fortalecido com um aumento da representatividade das populações mais vulneráveis, 2) a construçãode políticas públicas focadas principalmente em criar alternativas econômicas e sociais, e 3) o empoderamento e fortalecimento do senso de comunidade a partir da valorização da sua cultura, história e sociedade, possibilitando o equilíbrio de poder. Assim, acreditamos, será possível diminuir as possíveis assimetrias, especialmente em pequenas comunidades turísticas como Barra Grande – PI.
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Notas:
1 A literatura sobre o espaço urbano no capitalismo periférico data principalmentedos anos 1960 e 1970 e trata sobre a relação de dependênciados países considerados periféricos em relação aos países ditos centrais. Segundo Traspadini (2014), são considerados centrais aqueles que comandam as relações econômicas internacionais e determinam politicamente a dinâmica geral do processo econômico e político das relações internacionais. Essas relações acontecem dessa maneira por causa da formação histórica dos lugares, criando-se condições para a superexploração da mão de obra favorecendo os grupos dominantes locais e os capitais internacionais (AMORIM, 2012). De acordo com Santos (2011, p. 5-6), trata-se de “uma situação na qual a economia de certos países é condicionada pelo desenvolvimento e pela expansão de outra economia à qual está subordinada” e na qual “alguns países (os dominantes) podem se expandir e ser autossustentáveis, enquanto outros (os dependentes) só podem fazê-lo como um reflexo daquela expansão”. Odesenvolvimento dos países periféricos não é impedido, mas sim condicionado e limitado pelos países centrais.
2 conceito de “fetichismo da mercadoria” foi cunhado por Karl Marx (1818- 1883) na obra-prima intitulada O Capital (1867), significando o caráter que as mercadorias possuem, dentrodo sistema capitalista, de ocultar as relações sociais de exploração do trabalho, sedimentando-se, por conseguinte, em toda a sociedade. Sob o ponto de vista da teoria do valor de Marx, encontra-se no cerne dessas relações sociais a obtenção do lucro por parte de quem detém os meios de produção. Isso se faz devido à característica peculiar que as mercadorias possuem: além do valor de uso, como há em qualquer produto, há o valor de troca (SILVA, 2010, p. 375-376.). Fica claro que Barcelona é usada para exemplificar como uma cidade se torna global? Não acho necessário se ater a esse conceito.
3 A padronização diminui as diferenças e especificidades locais em detrimento de uma linguagem universal, sem perder o valor turístico e comercial.
Minicurrículos:
Sérgio Torres Moraes
Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2006) e Pós Doutor pela École NormaleSuperiore (ENS) de Paris, departamento de geografia, sobre resiliência urbana e regional. Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina do curso de graduação Arquitetura e Urbanismo e professor permanente do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PósArq).
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Marina Brito de Oliveira Marques
Arquiteta e Urbanista pelo Instituto Camillo Filho (2017). Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PósARQ) na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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Como citar:
MORAES, Sérgio Torres; MARQUES, Marina Brito de Oliveira. Espetáculo e Hibridação. As Perspectivas sobre o Turismo em Barra Grande – PI. 5% Arquitetura + Arte, São Paulo, ano 16, v. 01, n.21, e154, p. 1-24, jan./jul./2021. Disponível em: http://revista5.arquitetonica.com/index.php/periodico-1/ciencias-sociais-aplicadas/espetaculo-e-hibridacao-as-perspectivas-sobre-o-turismo-em-barra-grande-pi
Submetido em: 2020-07-06
Aprovado em: 2021-01-15
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